ESPAÇO DA “TIA”
Geografia é tudo de bom. Busca a compreensão holística do
espaço, mas também concentra suas atenções para o lugar. Lugar é onde temos
nossas mais vívidas experiências. Espaço vivido. Todo lugar é um espaço. Mas nem
todo espaço é um lugar. Complicado, não?
Quando nascemos o mundo já está pronto, e assim cabe a nós
nos adaptarmos a ele. A primeira experiência social que temos é no seio
familiar, seja esta experiência boa ou má. As experiências daí tiradas são pra
toda a vida. Dentro da família há, em regra geral, conforto e segurança, mas o
rompimento deste laço familiar ocorre naturalmente, ou seja, a emancipação
natural do indivíduo. Mas nós, como seres sociais e socialmente arranjado no
espaço, auxilia este rompimento cada vez mais cedo, fruto de um modo pós
moderno de viver.
O espaço da criança, o lugar, é a sua casa, sempre em
convívio com um membro mais velho da família. Desta forma o mundo exterior é
assustador e inseguro, então buscamos, enquanto pais, a levar nossos filhos a
ter experiências sociais extra familiar, e isto é uma imposição da sociedade
pos moderna. Assim a criança passa a romper as fronteiras do território
soberano da família e passa a estender a sua territorialidade e confronta, com
isso, com as diferenças que em seu convívio familiar não existia. Na família
todos são diferentes com tratamento iguais. Todos são irmãos uns dos outros e
tem uma autoridade comum a quem reportar, assim a sensação de segurança é
mantida. Com a expansão territorial do seu convívio, estabelece uma
territorialidade e alcança a escola. Na escola a criança vive sua primeira
experiência social além do alcance dos olhos protetores dos pais. É interessante
que no momento que tem que cortar o “cordão umbilical” que liga à sua família
há uma tensão que provoca choros e lamentações, mas a sociedade diz que tem que
ser assim, assim será. A criança, acostumada com o seu lugar familiar, encontra
agora um ambiente onde todos são iguais com tratamento diferentes. Iguais porque
são números de estatística e diferente porque o professor é um estranho e
reporta a ele pelo seu nome próprio e não pelo seu apelido carinhoso quando em família.
Não sei quando iniciou chamar a professora de tia, mas talvez seja para
amenizar este choque de mutação espacial imposta pela sociedade pos moderna. Talvez este recurso foi imposto pelas professoras das séries
iniciais para amenizar o conflito interno nas crianças. O fato é que nós somos
tão familial que usamos os recursos da família para resolver conflitos
inerentes à sociedade exterior à família.
Daí a noção de territorialidade familiar, que na distância
da família, espacialmente, os conceitos e temas familiares são usados. E desta
forma a experiência social da criança, fora do convívio familiar, a escola, é
recebida com a ternura da família, “TIA”.