terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


ESPAÇO DA “TIA”
      Geografia é tudo de bom. Busca a compreensão holística do espaço, mas também concentra suas atenções para o lugar. Lugar é onde temos nossas mais vívidas experiências. Espaço vivido. Todo lugar é um espaço. Mas nem todo espaço é um lugar. Complicado, não?
Quando nascemos o mundo já está pronto, e assim cabe a nós nos adaptarmos a ele. A primeira experiência social que temos é no seio familiar, seja esta experiência boa ou má. As experiências daí tiradas são pra toda a vida. Dentro da família há, em regra geral, conforto e segurança, mas o rompimento deste laço familiar ocorre naturalmente, ou seja, a emancipação natural do indivíduo. Mas nós, como seres sociais e socialmente arranjado no espaço, auxilia este rompimento cada vez mais cedo, fruto de um modo pós moderno de viver.
    O espaço da criança, o lugar, é a sua casa, sempre em convívio com um membro mais velho da família. Desta forma o mundo exterior é assustador e inseguro, então buscamos, enquanto pais, a levar nossos filhos a ter experiências sociais extra familiar, e isto é uma imposição da sociedade pos moderna. Assim a criança passa a romper as fronteiras do território soberano da família e passa a estender a sua territorialidade e confronta, com isso, com as diferenças que em seu convívio familiar não existia. Na família todos são diferentes com tratamento iguais. Todos são irmãos uns dos outros e tem uma autoridade comum a quem reportar, assim a sensação de segurança é mantida. Com a expansão territorial do seu convívio, estabelece uma territorialidade e alcança a escola. Na escola a criança vive sua primeira experiência social além do alcance dos olhos protetores dos pais. É interessante que no momento que tem que cortar o “cordão umbilical” que liga à sua família há uma tensão que provoca choros e lamentações, mas a sociedade diz que tem que ser assim, assim será. A criança, acostumada com o seu lugar familiar, encontra agora um ambiente onde todos são iguais com tratamento diferentes. Iguais porque são números de estatística e diferente porque o professor é um estranho e reporta a ele pelo seu nome próprio e não pelo seu apelido carinhoso quando em família. Não sei quando iniciou chamar a professora de tia, mas talvez seja para amenizar este choque de mutação espacial imposta pela sociedade pos moderna. Talvez este recurso foi imposto pelas professoras das séries iniciais para amenizar o conflito interno nas crianças. O fato é que nós somos tão familial que usamos os recursos da família para resolver conflitos inerentes à sociedade exterior à família.
   Daí a noção de territorialidade familiar, que na distância da família, espacialmente, os conceitos e temas familiares são usados. E desta forma a experiência social da criança, fora do convívio familiar, a escola, é recebida com a ternura da família, “TIA”.



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